Lembro de uma, das muitas vezes, que Eliot me levou ao psicólogo. Nós subimos juntos, porque ele queria ter certeza absoluta que eu iria entrar naquele manicômio.
Quando a porta do elevador se abriu eu me deparei com o garoto mais lindo de todo mundo. Se é que posso chama-lo de "garoto". Segui seus olhos verdes e quando menos esperava eles paravam em mim, Eliot já falava há algum tempo mas era como se tudo estivesse em silêncio. Só enxergava á ELE. Era como se o mundo tivesse parado e só existíssemos nós dois. Já me via ao seu lado na minha casa, e de Eliot também -infelizmente-, assistindo filmes de terror debaixo do cobertor, o nosso casamento e todo o resto da nossa vida juntos. Até que ouvi a oferecida, atendente do consultório, chama-lo para cochichar algo.
Não dava para ouvir, mas era tão desejável. Me levantei como uma boa garota e fui pegar uns biscoitos no balcão. Pelo que ouvirá, ela falava da irmã dele - que estava no consultório naquele momento. Ela o confortava e dizia que Ellie, a irmã dele pelo que havia entendido, iria se recuperar.A mulher o chamava de little Ty, o que não era nem um pouco verdade.
Voltei a sentar. Após uns cinco minutos ele ainda continuava lá no balcão, comecei a ler uma revista e pensar em qual seria o problema da irmã dele. Acho que nesse exato momento a porta se abriu e da sala saiu uma garota linda! Mas não poderia deixar de citar que ela era muito magra. Eu o vi formar um sorriso perfeito do outro lado da sala e correr para abraça-la e vi a garota começar a chorar em seus braços.
Antes que pudesse me perguntar ou assistir essa cena linda a atendente me mandou entrar no consultório. Só naquele momento lembrei que Eliot ainda existia. Sorri para ele mecânicamente e entrei na sala.
Lá dentro vi um homenzinho com um óculos grande e um sorriso simpático sentado numa poltrona, que ficava em frente a um belo divã preto. Ele me convidou para sentar e conversamos por umas duas horas. Todo tempo sobre besteiras e ele fazia perguntas de gente estranha, na verdade de psicólogo como Eliot diria. Até que me olhou serio por longos dez segundos.
- Alice... - ele deu uma pausa e continuou sério.- Vou ser sincero com você. Pelo que percebi você é uma garota bonita,, com muitos amigos. Mas eu não sei o que está ai dentro, o que você realmente sente. Coisas que só VOCÊ sabe.
Ele me olhou com profundidade, parecia que ele estava invadindo minha alma.
- Eu queria te pedir que levasse - tirou um caderno rosa claro da gaveta de sua escrivaninha- esse caderno para casa e escrevesse nele seus pensamentos diários, o que realmente sente.Como num diário entende? E depois se quiser poderemos discuti-lo aqui.
Ele me deu o caderno e eu quis rir. Mas me segurei inconscientemente. Peguei o caderno e o agradeci. Sai da sala e o meu motorista já me esperava lá em baixo.
Creio que essa seja uma boa hora para começar. Depois de ter ido embora de casa, e não poder mais mentir para mim é doloroso. Só eu sei o quão imperfeita minha vida é. Eu simplesmente não paro de pensar no papai, eu queria que tudo ficasse bem entre a gente e que a mamãe estivesse aqui, viva. Mas essa não é a realidade, não a minha. Não posso voltar para casa, pois Eliot e eu não nos damos bem de forma alguma. Não acho que seja só culpa dele. A minha intransigência não ajuda. Eu realmente quero mudar de vida e esperei até o fim do colegial para isso. Então estou aqui e vou seguir firme e forte.
Alice.
Nenhum comentário:
Postar um comentário